Por Beatriz Camargo, 27 de fevereiro de 2020
O início da religião Judaica surgiu por volta do século XVIII a.C., quando Deus deu Torá para o povo Judeu, através de Moisés, no Monte Sinai. Essa entrega significou um pacto eterno de Deus com os judeus. Naquele momento o povo Judeu recebeu 613 preceitos de Deus, que deveriam ser seguidos por eles.
Logo, Deus criou o povo Judeu para esta missão especial, e o povo deve servir a Deus. Neste momento, também, Deus entregou sete preceitos que toda a humanidade deveria seguir, são eles: não praticar idolatria; não blasfemar contra Deus; não cometer homicídio; não roubar; não cometer adultério e não manter relações incestuosas; estabelecer tribunais e não molestar os animais ingerindo um órgão retirado em vida.
O judaísmo foi a primeira religião monoteísta (que só acredita em um Deus) na história da humanidade.
Desde o início, os judeus foram muito perseguidos, tendo que levar uma vida nômade para fugir de represálias. Essa constante fuga fez com que os Judeus migrassem para vários lugares do mundo. A chegada da maioria
no Brasil e América do Sul foi devido à expulsão de países europeus, como Portugal e Espanha. Muitos também vieram para cá para fugir do Holocausto (período durante a II Guerra Mundial, quando quase seis milhões de Judeus foram mortos).
Como o Judaísmo entende a morte e o luto?
“A pessoa vem à Terra já com um tempo determinado, já tem os dias contados, no momento que ela termina a missão dela, Deus a leva” explica o Rabino Yacov Gerenstadt, da Sinagoga Beit Chabad, no bairro do Brooklin, em São Paulo capital.
Para a religião Judaica existe a vida aqui na Terra e no mundo Vindouro, onde muitos chamariam de “Par
aíso”, o local para onde as almas vão após completar sua missão. Assim, o corpo volta ao pó e a alma, que é eterna, volta ao Paraíso.
Depois da morte, a alma passa por um Julgamento, onde todas as boas e más ações que cometeu em vida serão avaliadas. Após esse momento, a alma passa por um período de purificação, que muitos chamariam de “Inferno”, Yacov Gerenstadt explica que esse processo ocorre para a alma entender e aprender com os erros que teve nessa vida e atitudes que a macularam. “Passado esse período [de purificação] ela entra no Paraíso, onde ela recebe a recompensa de todas as coisas boas que ela fez. A alma se subdivide em 613 partes, entã
o as partes que não foram retificadas nesta vida precisam voltar, então, ela reencarna em outro ser, outra pessoa para retificar o complemento da alma que não foi retificado”. Logo, se 612 partes da alma estão retificadas e apenas uma não está, o julgamento pode determinar a descida dessa única parte à Terra, novamente.
O Judaísmo acredita que a reencarnação acontece com as partes da alma que não cumpriram sua missão naquela vida. O Rabino ressalta que, como explica o livro de Eclesiastes, uma alma pode voltar de três a quatro vezes no corpo de um homem, se após essas vindas a alma continuar manchada, o Julgamento pode determinar sua vinda em um corpo de animal, para evitar que essa alma seja ainda mais maculada.
Outro processo que também ocorre é o da Gestação. Os Judeus acreditam que se uma alma precisa cumprir determinada ação, algum preceito de Torá e existe alguma pessoa na Terra que também está tomando esse caminho, a alma pode “pegar uma carona” com essa pessoa. “Se aquela alma está precisando daquela situação, lá de cima, para a alma não precisar ficar voltando várias vezes, o julgamento decide colocá-la dentro daquele corpo. A pessoa fica com duas almas, a dela e a adicional que ta ‘pegando carona’ e quando cumpre determinada ação, ela se desprende e volta” complementa Yacov.
Quando uma pessoa querida falece, a ligação entre a Terra e a alma é muito forte, por isso é comum em Sinagogas ou instituições Judaicas terem ofertas e placas em homenagem a falecidos que ajudaram aquele local, com doações por exemplo. Gerenstadt explica que essa homenagem é como um beijo que você dá na alma “Então, essa doação que é feita em nome de tal alma, porque toda reza que está sendo feita aqui, entra no mérito dessa alma, é como se ela estivesse proporcionando as portas abertas para as pessoas rezarem, porque estão fazendo em nome dela, então você está dando um beijo nessa alma, dando uma luz pra essa alma e lá em cima é muito forte isso que ela recebe.”
Quando a alma está no Paraíso, o Rabino explica que muita coisa é apagada da memória dela, principalmente sentimentos mundanos como a inveja, mas permanecem as memórias das boas ações e da família. “Justamente para a alma poder aproveitar as coisas boas do Paraíso, ela precisa se desconectar das coisas ruins e negativas daqui, senão atrapalha e interfere e ela não consegue se conectar com algo tão espiritual e sagrado”.
O período de luto para os Judeus dura sete dias. Esse tempo foi decretado por Moisés e serve para a pessoa refletir se suas ações são pensando em Deus ou em si própria. Nesse período, o enlutado não trabalha, ele não corta o cabelo, ele não come carne e não bebe vinho, com exceção do Shabat que é um dia de alegria.
O enlutado deve fazer, durante os sete dias e depois por 11 meses, uma reza especial, para ajudar a alma no momento de purificação. “Deus nos deu um presente muito grande, que são 80, 90, 100 anos de vida, e é um presente muito grande e devemos usar esse tempo para servir a Deus, fazer desse mundo, um mundo bom. Deve-se fazer um balanço nesses sete dias e saber se está servindo a Deus ou a si próprio, claro que a pessoa pode ter uma vida boa e confortável, mas o foco da vida não é esse, é servir a Deus” finaliza Yacov.
As informações foram cedidas pelo Rabino Yacov Gerenstadt, 49 anos, da Sinagoga Beit Chabad, no bairro do Brooklin, em São Paulo capital. Gerenstadt é rabino há 26 anos e nasceu no estado do Rio de Janeiro.
Outros links sobre o assunto:
http://www.chabad.org.br/ciclodavida/Falecimento_luto/luto/Shiva1.html
https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/3644030/jewish/A-Alma-e-a-Vida-Aps-a-Morte.htm